Eco de vida


Eco de vida
Talvez o suicídio possa ser prevenido, se demonstrarmos constantemente que nos importamos com as pessoas, as vezes um sorriso e um olhar mais aprofundado podem salvar os corações machucados que fingem estar bem. Fica o texto como reflexão e por fim uma pergunta, quantas pessoas que você conhece que talvez se sentem como a Michele, sofrendo cada dia e fingindo estar bem? Pode ser a moça que senta perto de você na faculdade, a sua colega de trabalho, sua vizinha ou a moça que senta ao seu lado no ônibus. 

Eis que surge mais um dia 8, cada um destes dias era uma facada dolorosa em seu coração magoado. Michele perdera tudo neste dia há 4 anos, perdera aquilo que mais amava. Ela havia aprendido a viver, a levantar-se da cama pela manhã vestir sua máscara de sorrisos falsos e passar horas a fio fingindo que o mundo girava do jeito certo.

Ninguém nunca a via chorar, nem reclamar, ninguém nunca vira as manchas das lágrimas no travesseiro e talvez ninguém nunca visse na verdade. Ela era um eco de alegria com o coração dilacerado por não poder mudar as coisa.

Era dia 8 novamente, 4 anos de dor, lágrimas e solidão. As coisas dele ainda estavam guardadas do jeitinho que ele havia deixado naquele dia em que saiu para uma viagem de duas horas e nunca mais voltou, sempre lembraria de seu rosto seu sorriso e de todas as lembranças maravilhosas, ele era tudo que ela tinha, era seu maior incentivador, seu melhor amigo e a única pessoa que ela tinha no mundo. E agora ela não tinha mais nada...

As lágrimas afloraram mais fácil, eram 7h da manhã seu café estava salgado de chorar, ela o via em toda parte e se lembrava daquele horrendo telefonema em que lhe disseram que ele estava morto, lembrava daquele dia como um pesadelo do qual nunca poderia acordar. O caixão, o rosto sereno e ela achando que morrera junto, como viver depois daquele dia? Como dormir e acordar? Estar viva era quase uma ofensa para ela, se pudesse teria trocado com ele, mas não podia e na verdade não trocaria, jamais faria ele sentir aquela dor.

Ela se trocou, vestiu o primeiro jeans que encontrou uma blusa básica, fez uma maquiagem caprichada e saiu com uma expressão impassível para o trabalho. Naquele dia ela estava tão morta quanto ele, mas ainda respirava, sorria e atendia ao telefone calorosa, as pessoas não sabiam de nada, tinha acontecido há tanto tempo que ninguém se lembraria. 

No fim do dia voltou para casa, tirou a roupa e ficou uma hora embaixo do chuveiro, deixando a água carregar tudo, mas aquilo nunca sairia dela... Já havia feito terapia, tinha conseguido vestir a máscara desde então, conseguia conviver com as pessoas e se esforçava, mas hoje era dia 8 e hoje ela era aquele resto jogado no sofá, usava um hobe dele, ainda tinha cheiro de loção pós barba. 

Ele sempre lhe faria falta e ela sempre viveria aquele dia com a mesma sensação de vazio. E isso pela primeira vez lhe pareceu correto, a dor se tornou uma amiga que ela acolhia de bom grado... Achou seu jeito de honrar a memória dele, de amargar a saudade, nem todas as lágrimas do mundo o trariam de volta, ela sempre o amaria e dia 8 sempre desejaria estar com ele e não sentir mais dor...

Fonte da Imagem

36 comentários:

  1. Me emocionei muito com seu texto. Cheio de sentimento e emoção.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Me emocionei escrevendo... Isso é muito sério precisamos zelar pelas pessoas próximas.

      Excluir
  2. Respostas
    1. Fico imensamente feliz em saber que o texto foi capaz de te emocionar, eu também chorei escrevendo...

      Excluir
  3. Que forte!
    Há uns anos perdi uma amiga dessa forma. Foi bem triste. Ainda mais por eu nunca ter percebido absolutamente nada do que ela tava passando. Até hoje ninguém sabe. Mas enfim...
    Você escreve super bem, arrasou.

    www.3dimensoes.com

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada Karlyson, realmente tem muita gente por ai sofrendo calado por achar que as pessoas não vão entender, que bom que gostou do texto.

      Excluir
  4. Tive que pensar um pouco antes de conseguir comentar. Não posso dizer que sei a dor que a personagem sentiu ou sequer de quem passa/passou pela depressão, não sirvo de parâmetro.
    E, ainda que a campanha do setembro amarelo traga uma boa reflexão para o tema, é importante lembrar algo que você mesma colocou no seu texto. Não sabemos o sentir do outro, cada um sente de um jeito, cada coisa afeta a um de uma determinada maneira. E, assim, vestir a máscara como a da personagem, só traz mais sentimento para pessoa que se torna envólucro dela mesma. Uma sombra de si.
    E, acho que um dos maiores problemas que temos hoje, é que, ninguém tem empatia. Empatia pela dor do outro e pelo que o outro passou. Chega uma hora que vão olhar para a pessoa e dizer: "mas já tem tanto tempo... ainda sofre por isso?". E assim, as pessoas criam a necessidade de ser feliz a qualquer custo ou, ao menos, demonstrar que são felizes. Porque o que importa, no mundo de hoje (em vários aspectos), é o que o lado de fora mostra e não o que está do lado de dentro.
    Obrigada pelo post, me fez refletir bastante no assunto e sei que ainda irá!
    xoxo

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Que bom que te fez refletir, eu acho depressão uma das coisas mais dolorosas que se pode sentir, é complicado demais e realmente as pessoas não tem empatia, eu já vivi isso de dizer "Tenho depressão" e olharem para mim como se eu fosse uma fresca que está se fazendo de vítima. Se interessar eu tenho o meu relato pessoal de como foi essa fase bem aqui - http://priscilila.blogspot.com.br/2016/08/sobre-paz.html Muito obrigada pelo comentário!

      Excluir
  5. Punk!
    Sabe... parece ser mais compreensível quando a depressão surge por conta da perda de um ente amado... mas quando é por um motivo aparentemente "supérfluo" dificilmente entendem, principalmente quando o tu costuma ser uma pessoa extrovertida e sorridente boa parte do tempo. Como assim? Tu nem parece que tem depressão!
    Até que a dor te corrói e os pensamentos ruins tomam conta do teu ser...
    É foda!
    Mas a gente tem que lutar e muitas vezes esse "lutar" cansa pra caramba... E em vez de sair do buraco, mais a gente afunda nele.
    Concordo contigo quanto o não existir o evitar... quando os depressivos vestem as máscaras e se acostumam com elas, o suicídio acaba sempre sendo uma "surpresa" de mau gosto.
    Adorei teu texto. Me fez colocar algumas lágrimas pra fora e eu estava precisando disso!

    Um beijo.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Que bom que gostou do texto Tais! Eu chorei escrevendo também, a minha depressão não veio de uma perda específica, mas mesmo assim eu me envolvi muito escrevendo! Obrigada pela visita! Beijos!

      Excluir
  6. Pois é, como já diziam "as dores da alma são piores que as dores do corpo"... tenho repudio de quem julga na maior facilidade uma pessoa que cometeu suicidio, antes eu ate pensava que eram pessoas fracas, mas hoje em dia a empatia tomou conta do meu coração...
    Já perdi uma pessoa próxima de suicidio. Até hoje fico pensando se eu deveria ou não ter ficado ao lado dessa pessoa, pois já havia nos afastado a alguns meses. Torcia secretamente para que ficasse tudo bem, mas não ficou e ela se foi. Não sei se aguentaria ajudar, se suportaria, se saberia... mas aconteceu e nao tem como voltar atrás, o que posso fazer agora é vigiar, e me mostrar a disposição de meus amigos para que isso nao ocorra novamente... =/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É, infelizmente as pessoas tem o péssimo hábito de tentar mensurar a dor dos outros, e isso só piora, coloca a pessoa mais pra baixo, porque a pessoa sente que está sofrendo por bobagem, mas não consegue se sentir melhor, ai fica mais deprê pq está sendo excluída por estar triste... Isso mata, e como mata...

      Excluir
  7. A primeira vez que ouvi falar sobre setembro amarelo foi esse ano. E acredito que esse é um tema que precisa ser conversado sem tabus. Como seu texto mostrou muitas pessoas se sentem triste e trazem consigo uma dor que muitas vezes ninguém tem conhecimento e chega uma hora que o peso se torna grande demais para ser carregado sozinho.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. pois é, e esse fardo carregado sozinho é que acaba com a resistência da pessoa... Quanta gente que conhecemos deve passar por isso e nem ficamos sabendo né? =(

      Excluir
  8. Um dia desses, por causa do Setembro Amarelo, vi uma estatística super preocupante, de que a cada 40 segundos uma pessoa tira a própria vida em algum lugar do planeta. Acredito que uma das maiores barreiras pra se ajudar essas pessoas, além da vergonha que algumas sentem de falar sobre o problema, é o preconceito por parte de quem tá do lado de fora. Tem gente que achar que doença é só "dor de barriga", sabe? Mas é aquilo, cada um sabe onde o sapato aperta, e os apertos na alma são piores do que a gente pensa.
    Por mais posts como o seu!!
    Um beijo!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada Deborah! Realmente... Eu que passei por um quadro sério de depressão e síndrome do pânico sei como e ser olhada como "a fresca" isso é terrível!

      Excluir
  9. Esse texto toca tão fundo... Mostra o quão 'fácil' é 'fingir' que está tudo bem quando lá no fundo não está. A gente não pode julgar o porque da pessoa 'esconder' o que sente, são os motivos dela. Acho que cabe a cada um ser mais humano e tentar ser melhor, ser mais gentil. Sei lá, às vezes um sorriso, um bom dia verdadeiro ajuda tanto a gente quando estamos em dias ruins. Perdas nos transformam por completo, mas, eu vejo tanta gente falando de suicídio como se fosse letra de música, sem importância... Realmente a gente precisa cuidar, se atentar aos detalhes... Quem sabe a diferença que a nossa presença ou nossas palavras podem causar. Acho que é um tema que ainda precisa ser muito trabalhado para que as pessoas não achem que é frescura ou fraqueza... lindo texto! beijos!

    ResponderExcluir
  10. Muito legal seu texto Lila! A depressão é um bicho difícil de entender, eu tive, minha mãe teve, meu irmão teve e conheço muitas pessoas que tiveram... Mas o engraçado é que os motivos são os mais diversos, pois é bem o que você disse: a gente não entende a dor do outro. O que pode ser nada pra mim, pode ser o fim pra outra pessoa. O mundo precisa de muito mais amor pra ajudar a acabar com esse mal!

    Beijinhos!
    www.carolpestana.com

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Verdade Carol, cada um sabe o tamanho do que sente e não cabe a ninguém dar palpite. Como vc disse falta amor nesse mundo!

      Excluir
  11. O texto me deu saudade do meu padrasto. Acho que o melhor é compartilharmos amor e compreensão, nunca sabemos quem precisa.
    Charme-se

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Isso, se passarmos o amor adiante o mundo será um lugar melhor!

      Excluir
  12. Que texto incrível! Nos ajuda a ver como é a vida de alguém que sofre de depressão.
    Eu já ouvi muitos comentários do tipo "é frescura" ou "essa pessoa não tem motivos", e apesar de não sofrer com o problema, nunca entendi essas frases. Por que alguém iria inventar motivos pra sofrer, tirar a própria vida?

    Embora não seja certeza melhorarmos a vida de alguém, acho que pequenos atos (um sorriso, como você citou) podem fazer a diferença na vida da pessoa. Ainda por cima, não perdemos nada ao fazer isso. Ao contrário, ajudar alguém só nos faz bem, não é? *--*

    Enfim, parabéns pelo texto! Eu amei a reflexão <3

    Beijos! :*

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É... Como tem gente que precisa do nosso sorriso as vezes e como tem gente com depressão e a gente nem imagina =(

      Excluir
  13. não sei daonde veio inspiração pra esse texto, mas acho que tu tirou dos meus pensamentos mais profundos! me vi na vida da michele e acho que seria exatamente assim se perdesse meu marido. e a partir desse trecho não paro mais de chorar "Estar viva era quase uma ofensa para ela, se pudesse teria trocado com ele, mas não podia e na verdade não trocaria, jamais faria ele sentir aquela dor."

    desculpa por escrever tão pouco, mas quando consigo parar de chorar, penso no que dizer e volto a chorar de novo!

    beijos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu chorei muito escrevendo... Te entendo, na verdade eu meio que já escrevi outros textos igualmente tristes, eu sou meio intensa nessas coisas, acho q por ter efetivamente depressão e saber q o que passa dentro da gente nessas horas é que fica tão realista...

      Excluir
  14. esse esto ficou incrível! lindo, triste e muito necessário. eu fico me perguntando como tem pessoas que veem o suicídio e a depressão como bobagens o.O pra achar isso, tem que ser muito desinformado!

    eu sempre tento prestar atenção nas pessoas ao meu redor, perceber se elas estão bem porque eu sei como é horrível estar pedindo ajuda por dentro e não ter ninguém para te socorrer. desde que eu tinha 12 anos, por conta de algumas coisas que aconteceram nessa época, eu tenho esses momentos de trauteia onde eu sinto que quero desaparecer... é ruim demais! sou bem alegre, mas quando entro nesses dias ruins, eu fico remoendo tudo de mal que já passei.

    achei que a iniciativa desse mês é maravilhoso <3

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. eu sou assim também sempre tentando animar as pessoas, passei muita coisa nessa vida também, mas... sabe como é tem horas no silêncio que tudo volta e sempre volta porque a gente não tem amnésia pra coisa ruim, podemos esquecer momentos bons, mas os ruins sempre voltam nas horas de desespero e vira uma bola de neve!

      Excluir
  15. Oi Lila, tudo bem? Confesso que nunca li ou conheço muito sobre suicídio, mas sempre acreditei que era algo que pudesse ser evitado, seja com terapia, com ajuda familiar ou qualquer outro recurso. É triste acreditar que muitas vezes não há realmente o que ser feito. Penso que se no início dessa tristeza aguda a pessoa procurar apoio da família ou ajuda profissional pode reverter esse quadro. É preciso que ela seja mais forte do que o que está sentindo. O texto é muito forte e profundo, realmente uma reflexão. Nunca tinha ouvido falar de setembro amarelo, aprendi com nosso grupo, linda iniciativa. Beijos, Érika *-*

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Infelizmente só a terapia não resolve! Tem que ter muita força e muito apoio, mas quando se está no fundo do poço é difícil de conseguir força.. Obrigada Érika! \o/

      Excluir
  16. Lila,gostaria de repostar seu texto em minha rede social...poderia?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá! Se colocar os devidos créditos e depois me deixar o link para que eu possa ver pode sim sem problemas!

      Excluir
  17. Primeira vez que ouço falar sobre o Setembro amarelo. É triste a realidade, nunca li muito sobre o suicídio, mas acho que é uma causa muito importante e que precisa ser abraçada.
    Costumo falar que é sempre importante prestar atenção nas pessoas ao nosso redor, não sabemos pelo que elas estão passando mas se conseguirmos identificar algo, que possamos oferecer ajuda. O apoio é super importante nesses casos!
    Me emocionei com seu texto, abraço! ❤

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Verdade, é uma causa bem necessária essa do setembro amarelo.

      Excluir
  18. Primeiramente parabéns Lila pela escrita do texto, segundo obrigada por escreve-lo e terceiro eu não conhecia o termo "setembro amarelo".. E em fim meu comentário, fico muito triste de saber que existem zilhões de pessoas nesse mundo que não entendem que elas mesmas são co-criadoras do seu estado de espirito, desculpa eu falar dessa forma, mas eu como estudante de fisica quantica não acredito que tudo que sentimos seja causa daquilo que pensamos e acreditamos. Então se as pessoas passassem a entender melhor isso elas seriam muito mais felizes e alegres e essas coisas depressões e etc não existiriam. Eu particularmente preferi ser feliz, e não depositar energia em pensamentos que abalem isso!
    Por mais amor no nosso mundo e em todos <3
    Beijão!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Se as pessoas aprendessem a amar mais teríamos um mundo bem melhor! =D

      Excluir

Oi pra você! Leu o post? Então deixa a sua opinião, gostaria muito de saber o que você achou