Justiça Cósmica

Justiça cósmica

Marcela acabava de se formar na faculdade, morava em uma cidade grande estava solteira e sempre buscava viver a sua vida da maneira mais leve possível, sendo gentil com todos, fazendo coisas boas pelas pessoas, sorrindo e  tentando contagiar os outros a sua volta. 

Ela era uma pessoa inofensiva, quem a conhecia sabia de seu enorme coração, sua empatia e seu alto astral, mas nem tudo eram flores, uma moça que trabalhava com Marcela não achava a moça assim tão maravilhosa, seu nome era Leona. Elas tinham a mesma idade e exerciam a mesma função, mas ao passo que Marcela era sempre muito elogiada, Leona achava que os seus próprios esforços eram turvados pela "perfeitinha", como costumava chamar a colega de trabalho.

Leona era uma pessoa que fazia o possível para se destacar, ela sempre tentava ter atitudes chamativas, tinha um instagram de causas sociais onde mostrava diariamente fotos dando comida a mendigos, acariciando animais de rua, fazendo textos super fofos elogiando suas "amigas", o que o mundo chamaria de uma pessoa social, uma pessoa boa que ajuda os outros. Porém após cada clique o que ela realmente esperava era um reconhecimento, um "olha que coisa incrível você fez aqui", mas esses elogios muitas vezes não vinham e ela se lamentava, achando que o mundo não a enxergava.

Seu momento ápice foi em um dia de festa da empresa, todos os funcionários estavam reunidos em um restaurante para comemorar uma meta batida, quando o gerente se levanta, bate com o garfo em uma taça para chamar a atenção de todos e começa a discursar sobre uma grade mudança que está para acontecer.

- Caros amigos, hoje eu tenho a honra de informar a todos que nossa empresa está em um momento de crescimento, sendo assim, vem mudanças bem significativas por aí! - todos em volta estavam sorrindo e ansiosos. - Estamos abrindo uma nova filial no Sul para abranger mais mercado e para isso, precisamos pensar em como gerenciar este projeto da melhor maneira possível. Chegamos então a conclusão de que eu, Anderson, serei o responsável por toda essa estruturação. Vou me mudar para outro estado, mas vou tranquilo sabendo que aqui tudo ficará bem, porque eu tenho certeza que fizemos uma excelente escolha ao promover a Marcela para o cargo de Gerente da empresa.

O queixo de Leona caiu, estava indignada, quase ultrajada, Marcela entrou na empresa apenas um ano depois dela, elas exerciam a mesma função, então porque Marcela estava sendo promovida a gerente e não ela? Ela havia se esforçado mais, se dedicado mais, engolido mais sapos e sido mais puxa saco dos chefes, então por que não haviam promovido ela?

Enquanto todos congratulavam Marcela pela promoção, Leona pensava em um modo de fazer todos enxergarem o quanto Marcela era falsa, ela não era de papear muito com as pessoas, nem demonstrava qualquer tipo de posicionamento em relação as causas sociais que era uma das principais preocupações da empresa. Lenona faria a máscara de boazinha cair, estava determinada!

Ela começou o plano de boicote no dia seguinte, plantando a discórdia no escritório, falou com algumas meninas no almoço, plantou suas dúvidas e deixou que o boato frutificasse. Ninguém sabe nada sobre a Marcela, ninguém vê ela nas redes sociais, não tem namorado e não fala de seus posicionamentos políticos e sociais entre  outras coisas eram as dúvidas que começaram a permear os corredores.

Podia se notar o clima mudando, as pessoas ficando confusas, tentando refutar estas questões, mas sabendo tão pouco da colega que não conseguiam manter um argumento por muito tempo. Leona começou a sentir o jogo virar, estava feliz, ia trabalhar mais arrumada, levava pequenos presentinhos para os amigos que compartilhavam os boatos de Marcela e começou a se sentir cada dia mais confiante, sempre fazendo um bom trabalho e esfregando na cara de quem quisesse (ou não) ouvir o quanto era bondosa.

Havia se passado um mês da promoção de Marcela quando o telefone da mesa de Leona tocou.

- Leona, bom dia? - disse ela ao atender.

- Oi Leona, aqui é o Anderson, estou na empresa hoje e gostaria de falar com você, consegue subir em alguns minutos até a sala de reuniões por favor?.

- Claro! Já estou indo aí! - ela colocou o telefone no gancho e se esforçou para não executar uma pequena dancinha da vitória. Estava acontecendo! Anderson notou que fez uma escolha ruim e queria lhe propor a promoção de Marcela antes destituí-la do cargo. Já que estava claro que toda a equipe estava desconfiada do ar de boa moça da garota.

Chegando a sala de reuniões, ela entrou com um vasto sorriso.

- Oi Anderson, tudo bom?

- Oi Leona, tudo certo por favor, sente-se.

Ela obedeceu.

- Bom. - começou a falar Anderson. - Como sabe tem mais ou menos um mês que a Marcela foi promovida. - Leona concordou com a cabeça. - Pois bem, ela está tendo um pouco de dificuldade por conta de algumas dúvidas que o pessoal está levantando a respeito dela, dúvidas estas que chegaram até mim.

- Ah sei do que está falando, já ouvi algumas coisas a respeito. - Disse ela com uma expressão preocupada. - Já sabe o que pretende fazer a respeito? Acho que um líder que não inspira a confiança da equipe pode ser muito problemático para a empresa.

- Realmente, a perda da confiança é complicado. - Disse ele. - Sabe, eu tenho uma opinião formada a esse respeito. Sabe o que um bom jardineiro faz com as ervas daninhas?

- Poda?

- Exato! Não há como manter uma erva daninha, elas são difíceis de controlar e não trazem absolutamente nenhum benefício para o jardim e é assim que eu vejo funcionários nos quais eu não posso confiar.

- Perfeito! Concordo plenamente! - ela quase bateu palmas o que teria denunciado sua empolgação em saber que Marcela seria demitida.

- Ótimo! Assim fica muito mais fácil eu te dizer que a partir desta data você está sendo desligada da empresa. - disse Anderson.

O choque chegou a expressão de Leona em câmera lenta.

- Perdão?

- Você ouviu, nós estamos desligando você da empresa.

- Por quê?

- Porque você Leona, é uma erva daninha, Desde que entrou aqui sempre se comportou de forma muito ruim, sempre foi grosseira com seus colegas, não é gentil com ninguém, exagera nos seus cafézinhos durante o expediente, vive apontando os erros dos outros e justificando muitos dos seus, como resultado da incompetência dos colegas. Também sei que você plantou os boatos internos que fazem a Marcela ter tantos problemas em sua gestão.

- Não são boatos! Ela é uma metida! Ela entrou aqui depois de mim, eu dei duro para ser promovida, eu dei duro para ser vista, eu me esforcei! - Esbravejou.

- Então. Primeiro, você se preocupa sobre como a Marcela é fora daqui, já que você não faz nenhum segredo do quanto você é generosa, mas sabe o que importa para mim como empresário? O comportamento que você exerce dentro da empresa. Quando eu precisei de um gerente para a empresa eu pensei em você, mas notei que você não dá bom dia para as pessoas, não troca seu horário de café porque um amigo está muito apurado com o trabalho e precisa tirar o intervalo mais cedo, você não recoloca as folhas na impressora quando o papel acaba, enfim, você apresenta uma infinidade de comportamentos bastante egoístas na sua rotina e um gerente a meu ver precisa ser parceiro dos colegas, não pode se comportar como se fosse melhor do que ninguém, precisa ter empatia com a equipe, entender os outros e se importar com eles, porque uma equipe sem motivação não rende. Marcela só está tendo problemas porque você com sua inveja e seu egoísmo resolveram pensar apenas em si e não na empresa como um todo. Eu mantive você até agora porque você exerce seu trabalho bem, mas não tem sido assim no último mês, tenho percebido, mesmo de longe, que você se dedica apenas a apontar os erros da Marcela e dos demais. Você parou de produzir, parou de cumprir as suas obrigações para boicotar os demais e isso eu não vou admitir! - Ele pontuou batendo com o indicador enfaticamente na mesa. - Ali fora tem um segurança, ele acompanhará você até o seu armário e a sua mesa para que possa recolher os seus pertences, depois ele irá com você até a saída, assim que tudo estiver pronto para a sua rescisão o RH irá ligar para você e acertar tudo. Seja muito feliz na sua vida e espero que aprenda a ser uma pessoa melhor no futuro, pode ir.

Lorena se levantou com uma expressão de raiva.

- Escute aqui... - Mas foi bruscamente interrompida por Anderson.

- Escute aqui você! Eu não estou te dando espaço para réplicas, eu não vou tolerar uma menina mimada e birrenta, você esteve na empresa por 5 anos e em todo esse tempo fez apenas o seu trabalho, puxou o saco da diretoria e puxou o tapete e de todo mundo aqui, então não, eu não quero suas justificativas, eu dei corda e você se enforcou com ela, agora saia ou prefere que eu peça para o segurança vir até aqui para tirá-la na base da força? - Ela o olhou com todo ódio que estava sentindo, empinou o nariz e saiu com altivez.

Nos dias que se passaram ela recebeu mensagens de colegas perguntando se ela estava bem e ela fez questão de ser grosseira com todos. Chamou cada um de falso e disse que não queria peninha da ralé.

O clima no escritório ficou melhor, Marcela conseguiu se apresentar como a boa líder que era sem todos os boatos e interferências de Lorena e tudo fluiu.

Lorena acabou tendo que voltar para a casa dos pais, porque não conseguia um emprego a sua altura e não aceitava se rebaixar a cargos menores, nada a fez aprender, nada mudou ela apenas se tornou mais amarga.

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