Relato de um Pai



Dia dos Pais

Dizem que quando nasce um bebê, nasce uma mãe, mas o que muita gente se esquece, é que nesse dia, nasce também um pai. 
Meu nome é Matias, e eu tinha 35 anos quando meu filho nasceu. Foi uma semana antes do Natal, no dia 18 de dezembro eu conheci o Gustavo, meu filho, pesando 3,250 Kg medindo 54 centímetros, de olhos azuis e cabelo castanho, ali, eu percebi que o mundo tinha mudado drasticamente para mim.
Mas, vamos começar do começo, porque história não é história sem contexto.
Como disse, me chamo Matias. Conheci minha esposa na faculdade, ela cursava arquitetura e eu engenharia, uma amiga dela, que namorava um amigo meu, nos apresentou, começamos a sair, gostamos um do outro, namoramos e tudo fluiu até nos casarmos 4 anos depois. Eu já tinha 25 anos e ela 23, ambos formados e trabalhando, compramos um apartamento, mobiliamos e fomos viver a nova fase felizes. 
Decidimos curtir a vida de casados por no mínimo 5 anos, até pensarmos em ter filhos e mantivemos o plano. 
Quando decidimos que era a hora, batemos um papo e ela parou com o anticoncepcional, foi dada a largada, agora era só esperar a natureza seguir seu curso, mas parece que a natureza resolveu nos sacanear.
Elaine não conseguia engravidar, começou a ficar triste, comia pouco, lia muito, até que um belo dia não quis sair da cama, chorava muito e estava em estado lastimável. A depressão levou minha esposa, tentante há 3 anos, vendo as amigas de barrigão e as pessoas cobrando nosso bebê de bochechas rosadas, como se ter filhos fosse simples. Acho, de verdade, que as pessoas pensam que os casais vão até uma loja, compram um bebê e a dona cegonha trás ele depois de 9 meses, pendurado em uma fralda e deixa na nossa porta, como um presente. Ironias à parte, foi uma fase bem séria, quase a perdi, ela se afundou em uma depressão terrível devido, única e exclusivamente, a pressão que a sociedade colocava nela, eu queria ter filhos, mas o mundo não era assim cruel comigo, aliás acho que a coisa mais cruel que ouvi foi que, se Elaine estava "estragada" eu deveria arrumar uma mulher que pudesse me "dar" filhos, sim, eu nunca tinha notado o quão doentia soa essa expressão, "te dar um filho", como se ela tivesse uma obrigação moral para comigo. 
Enfim, resumindo a história, peguei minha esposa, levei ao psicólogo e ao psiquiatra, no começo ela não queria ir, não admitia a depressão e achava que a cura era ser mãe, mas isso não era a cura, isso era a consequência da cura, que ela entendeu só depois de quase 6 meses de terapia, quando a venda do "se você não ficar bem, não vai conseguir ser mãe" finalmente começou a fazer sentido para ela. (Eu dizia isso pra ela todos os dias, mas foi a Dra. Guerra que fez a ideia germinar em sua cabeça, o importante foi que entrou, não me importo com a fonte).
Então, quando ela estava se sentindo melhor, tomei outra atitude crucial, mudei de estado com ela. No começo ela reclamou muito, mas a empresa que eu trabalhava tinha uma filial pedi transferência, ela precisava sair daquele lugar cheio de gente toxica, que ficava envenenando ela, fazendo ela se sentir uma incapaz e destruindo a auto estima dela, exaltando a maternidade, esse processo durou pouco mais de um ano.
Até que eu acordei uma manhã e ela está se sentindo mal, ficou na cama aquele dia, eu cuidei da casa para ela descansar, mas a indisposição voltou no dia seguinte e isso durou uma semana, então ela resolveu ir ao médico e ele mandou ela fazer uma bateria de exames rotineiros, para ver como andava a saúde dela, mas eu, sempre muito desligado, dei a primeira bola dentro da minha vida! Comprei um teste de farmácia e usei a coleta de urina dela para fazer o teste, enquanto ela estava fazendo o café.
Deu positivo! Elaine estava grávida! Guardei o teste, joguei a urina fora e disse que bati sem querer e derramei a coleta, então na volta do trabalho, comprei uma caixinha, coloquei um body amarelo escrito "sou da mamãe" junto com o teste e dei de presente a ela no jantar, ela chorou feito uma criança, que ganhou o que sonhava na manhã de natal e acho essa analogia perfeita, porque ele nasceu uma semana antes do natal, chorei também, confesso.
Fiz ela guardar segredo, até passar o primeiro trimestre, não queria todo aquele veneno consumindo ela, já logo no começo da gravidez, de tanto insistir ela prometeu que faria acompanhamento, além da obstetra, também com uma nutricionista e uma psicóloga, não quis dar sorte pro azar, ser mãe deve ser uma barra e as pessoas cruéis como são, poderiam fazer dessa experiência maravilhosa para ela, um pesadelo.
Esperávamos ele para no máximo a primeira semana de Janeiro, mas ele nasceu no dia 18 de dezembro, apressadinho!
Eu participei de tudo, as consultas, ultrassons e o parto, apavorado, nervoso por ela, não vou dizer que trocaria de lugar com ela, porque eu sou um frouxo pra dor, certamente não aguentaria e admiro cada mulher nesse mundo, que aguenta um parto, porque não é a lindeza que as pessoas pintam não.
Quando eu o vi, pensei que estava assistindo um daqueles filmes, parecia mentira, era meu filho ali, pequenininho, sujo de sangue, chorando a plenos pulmões e como já mencionei, o mundo mudou drasticamente naquela hora, cortei o cordão e dei o primeiro banho, aquelas coisas de pai, pra eles sentirem que foram importantes de alguma forma, no fundo eu sabia que eu não estava fazendo nada perto do que ela tinha feito, ri sozinho pensando na expressão idiota, de que a mulher "nos dá filhos", elas não nos dão nada, se formos contar o  esforço emprenhado por ambas as partes, o filho é muito mais dela do que meu.
A enfermeira permitiu que eu levasse ele no colo para o quarto, Elaine chorou olhando pra ele enquanto mamava, eu também, ter o Gustava ali conosco era uma vitória, contra a depressão, contra a opressão, contra um mundo inteiro que quase a matou, contra tudo e, em pouco tempo de vida, ele se tornou a coisa mais importante do mundo pra mim, alguém por quem eu morreria e para nós homens, essa é uma frase tosca, porque são as nossas mulheres que, literalmente, quase morrem pra trazê-los ao mundo. 
Naquele quarto de hospital, olhando minha esposa amamentar meu filho, eu fiquei feliz, por ter ela, por ver ela feliz, por ver meu garoto forte e saudável e por saber, que quando ele completasse sua primeira semana de vida, seria natal e que pro resto da vida, eu teria que arcar com dois presentes! Brincadeirinha, quer dizer, eu pensei isso, mas foi apenas uma piada.
Ela recebeu alta da maternidade no dia 20, cancelamos a viagem para o natal, meus pais e os dela não conseguiram vir e eu bloqueei, todas as visitas de "amigas", até ele ter pelo menos um mês, pode parecer drástico, mas eu vi minha irmã reclamar, do quanto as visitas eram inconvenientes, querendo pegar no colo, dar beijinhos e uma infinidade de "conselhos", completamente desnecessários, mas correu tudo bem.
Eu fui o pai mais presente que conseguia ser, trocava as fraldas, dava banho e tentava revesar com ela as madrugadas insones, porque ela estava bem esgotada, ser mãe não é brincadeira gente, ser pai é muito mais fácil, cuecada de plantão, valorizem as mães que vocês tem em casa, as mulheres são uns belos de uns tanques de guerra, caramba, trocando umas fraldas e acordando algumas vezes na madrugada já estava me deixando esgotado, imagina dar de mamar de 3 em 3 horas...
Meu filho cresceu fortão, lindão e falou mamãe primeiro, incentivei ele a isso, porque ela merecia o mérito.
Eu não consigo descrever o amor que eu sinto pelo meu filho, ele é o centro, não faço nada sem pensar nele, no que ele pensaria do pai dele tomando certas atitudes, dizendo certas coisas, me preocupo em ser o espelho dele, porque afinal eu sou a primeira referência masculina que ele vai ter e é no meu comportamento, que ele vai se apoiar para crescer, então é responsabilidade minha, ensinar como ser um cara de bom caráter e a respeitar as pessoas, ensinar a ele que o papai pode ser um herói, mas a mamãe é que tem os super poderes, ensinar a ele os valores e entender que nem tudo nesse mundo está certo.
No fim das contas é visceral o vínculo de pai e filho, tão forte como o de uma mãe, mas muito diferente, porque faz parte da vida e pai e mãe tem papéis diferentes, são figuras diferentes e possuem espaços distintos, mas ambos importantes. Talvez ser pai, para o mundo, não seja grande coisa, não temos as cobranças que as mulheres tem, não se vê homens dizendo por aí quão mágico é ser pai, porque socialmente falando isso é uma "boiolice" e tem muito macho alfa, homem com "H" maiúsculo, que vai ler esse meu relato e dizer que eu sou um babaca, não me surpreende.
Eu sou um pai, um orgulhoso pai, de um garoto de 3 anos incrível, que todos os dias me instiga a ser um cara melhor.
Se você que está lendo isso for homem e me achar um babaca, saiba que o babaca é você, agora se você se identificou, saiba que estamos juntos nessa amigo. Se no entanto você for uma mulher e mãe, sinta-se aplaudida porque se existe um teste de resistência nesse mundo, é esse, e você passou com louvores e estrelinhas. Por fim, se você é uma tentante frustrada, pare de se cobrar tanto, relaxe e não deixe o mundo te engolir em neuras e frustrações!

É isso gente, desculpe se me estendi, fiquem bem.



0 Comentários:

Postar um comentário

Oi pra você! Leu o post? Então deixa a sua opinião, gostaria muito de saber o que você achou