Eu e Ela...

Eu e Ela...


Ela surgiu uma noite, era linda, olhos escuros, cabelos castanhos, usava um vestido azul claro com estampa de flores larguinho, abaixo dos joelhos, era séria e não conversava muito. Ela estava em uma festa de bairro, dessas organizadas por igrejas querendo arrecadar fundos e eu não sei até hoje o que me chamou a atenção nela, mas sei que eu fiquei interessado.

Chamei um amigo que estava lá e perguntei quem era a moça e ele me disse que era a filha de um dos organizadores e que sempre estava na igreja trabalhando com os pais.

Então eu... me converti, por assim dizer, comecei a ir em todas as festas, em todos eventos e participar de todos os movimentos, por ela, para ver a moça bonita.



Um dia, finalmente consegui chegar perto o bastante para dizer oi, igual um idiota deslumbrado, perguntei seu nome e ela me respondeu que era Debora, mas logo desconversou e saiu apressada dizendo que precisava fazer qualquer coisa que eu não consegui ouvir.

Fiquei frustrado, mas agora sabia seu nome e continuei a minha saga.

Eu levei meses até ter uma oportunidade e ela finalmente chegou, era um retiro de primeira experiência, iam ser três dias em uma fazenda. A essa altura do campeonato eu já tinha muita informação sobre a Debora, ela tinha  23 anos, era filha do coordenador litúrgico, estudou em escola cristã e era reservada e séria, estava sempre envolvida na igreja e tinha poucos amigos, inclusive um cara que eu fiquei chocado ao saber que era ex-marido dela, o nome dele era Claudio e todo mundo amava ele, ninguém sabia o motivo do casamento ter acabado, mas eles ficaram juntos apenas 4 meses e se divorciaram.

No retiro foi onde eu comecei a suspeitar que algo não ia bem com a Debora. Na primeira noite houve um luau, perto do lago, todo mundo estava lá em volta de uma fogueira cantando e confraternizando, mas eu não a vi, então sai procurando, a encontrei sentada debaixo de uma árvore, estava escuro e eu mal conseguia ver sua silhueta, mas eu soube na hora que era ela, me aproximei e ouvi o som lamurioso de um choro contido.

Cheguei silenciosamente e disse.

- Oi. Está tudo bem com você?

Ela levantou os olhos pra mim e eu pude ver que seu rosto estava desfigurado de chorar, ela apenas acenou um sim com a cabeça e virou para o escuro.

- Você está chorando, tem certeza que está tudo bem?

Ela acenou novamente e soluçou.

Eu não consegui me conter.

- Desculpe Debora, eu realmente não quero incomodar sua privacidade, mas você está chorando. 

Ela virou, mais surpresa do que incomodada.

- Por que você se importa tanto com isso? - disse com a voz embargada. - Ninguém liga. Você devia estar no luau com os outros, não aqui tentando me ajudar.

- Discordo, eu devia estar onde Deus me mandou e se eu estou aqui é porque é aqui que eu deveria estar, ajudando você.

- Não pode me ajudar, não tem nada que possa fazer por mim.

- Que tal me dizer qual é o problema?

Ela me olhou séria e em seguida olhou na direção do lago. Claudio havia pego o violão e estava cantando.

- Quem é ele? - Perguntei.

- Meu ex-marido. - respondeu ela.

- E por que não deu certo?

Os olhos dela se encheram de  lágrimas e eu soube que ele era o problema.

- Eu sei que estou sendo chato, desculpe. - disse sem jeito.

- Tudo bem, nunca ME perguntaram isso.

- Por quê?

- Porque ele e meu pai tiveram a bondade de desconversar e me obrigaram a nunca falar sobre o que aconteceu.

- E o que aconteceu?

- Não posso contar...

- Ninguém está vendo.

Ela me olhou chocada.

- Deus está vendo! - disse ríspida.

- Sim, e ele sabe o que aconteceu e se você está em um canto chorando e eu fui impelido a vir aqui é porque talvez ele quisesse que eu te ajudasse.

- Já disse que você não pode me ajudar. 

- Tudo bem, mas eu realmente gostaria de saber, as vezes desabafar é bom.

- Eu estou na disciplina, meu pai me colocou, eu devo me portar como uma mulher porque eu não fui uma boa esposa. É por isso que estou chorando, porque meu casamento acabou e a culpa é minha.

- E o que você fez de errado para ser responsável pelo fim do casamento?

- Eu me neguei a fazer as vontades do meu esposo.

- Eu acho justo você não fazer as vontades de outra pessoa apenas porque é casada com ela.

- Você não entende! Eu não fiz o que devia, eu fui grosseira, neguei inúmeras vezes cumprir meus deveres de esposa e ele me deixou por conta disso. 

- O que exatamente eram esses "deveres de esposa"?

- Não é sensato falar dessas coisas com estranhos. - Ela virou o rosto e eu percebi que estava envergonhada. Logo fiz a ligação.

- Então quando ele procurava a esposa, você dizia não, é isso?

Ela ponderou a pergunta, pesou as entrelinhas, me olhou nos olhos e acenou uma afirmação com a cabeça.

- Por quê?

- Era doloroso... - respondeu ela num fio de voz e vi com o coração aos pedaços o lábio dela tremer.

- Não deveria ser.

- Minha mãe disse que é normal doer.

- Pois eu digo que não é.

- E quem é você pra dizer?

- Um médico, que entende bem dessas coisas.

- Médico? - Ela me olhou chocada.

- Sim, sou ginecologista e obstetra e se tem uma coisa que eu posso garantir é que sexo não dói, se dói é porque você está doente ou porque o seu parceiro é um bruto.

Ela me encarou com a boca entreaberta, depois olhou novamente para o lago com a voz de Claudio entoando uma música tendo um coro acompanhando.

- Eu não sei, só... conheci ele. - Disse constrangida.

- Tenho certeza que existem homens melhores por aí. - disse sorrindo, me achando um puta oferecido, por fora eu estava calmo, mas por dentro eu queria enfiar a mão na fuça perfeitinha do tal de Claudio e dizer pra Debora que eu era capaz de fazer ela sentir prazer com um homem que respeita os limites dela.

Ela no entanto deu uma risadinha amarga.

- Eu não vou encontrar esse homem que você diz. Eu sou a piada, as meninas me tratam como uma mulher suja, meus pais não me deixam nem me aproximar de outro cara com medo que eu engravide agora que não sou mais virgem ou pior, que eu dê ainda mais vergonha para eles.

- Vergonha? Que tipo de vergonha você daria?

- Do tipo que chega em casa escoltada pelo marido furioso, literalmente me devolvendo por ser uma  mulher estragada, que não cumpre suas obrigações físicas para com o marido. Meus pais não querem que eu me case novamente com ninguém da igreja, para que ninguém mais saiba que eu sou fria como mulher.

- Nossa. É a coisa mais ridícula que eu já ouvi na minha vida. 

- Eu sei, eu sou ridícula. - e lágrimas escorreram novamente pelo rosto lindo. Naquela hora eu só pensei o quanto eu queria abraçá-la e encher ela de beijos, porque mulher nenhuma merecia ser tratada como um pedaço de carne como ela.

- Ridículo é seu pai e aquele babaca que está cantando ali. - disse apontando para o lago, onde o imbecil cantava.

Ela me olhou incrédula.

- É sim, são ridículos, se um cara me aparece na porta da minha casa com a minha filha dizendo que ela é uma "mulher fria na cama" eu sou capaz me surtar e avançar no desgraçado.

- Você realmente acredita que a culpa não é minha? - perguntou ela.

- Eu tenho certeza que não é. Se eu fosse seu marido eu jamais perderia você por tão pouco. - e lá vou eu estragar a conversa falando demais. Burro!!!!!

- Acha pouco eu não ter conseguido satisfazer as necessidades do meu marido?

- Acho. Existem inúmeras coisas que são mais importantes em um casamento do que sexo.

- Você é o cara mais estranho que eu já vi.

- Por quê?

- Porque você faz eu sentir como se tivesse escolha.

- Você tem! Pode e deve ser feliz, não liga pra essa baboseira. Esquece esse imbecil ou vai me dizer que ainda está apaixonada por ele?

- Não acho que algum cara vá gostar de mim, eu sei que o Claudio já deve ter falado de mim para os amigos do grupo, ninguém sequer se aproxima de mim.

- O mundo não se resume só a um grupo de jovens Debora, existe uma porção de caras lá fora. - mas na minha cabeça eu só pensava, caramba eu to aqui, me enxerga.

- Eu não saio muito.

Eu ri e para a minha surpresa, ela também sorriu, ela sorriu pra mim!

- Não sei seu nome.

- Gabriel.

- Nome de anjo. - disse ela absorta.

- É - respondi intrigado, no que ela estava pensando?

A música parou.

- Acho que está na hora de todos irem para os seus alojamentos. - disse ela. - Boa noite, obrigada pela conversa.

- Fique bem.

Ela sorriu e eu vi que tinha ficado vermelha.



Daquele dia em diante, ela mudou, ela sorria pra mim e sempre conversava comigo nas horas vagas e com o tempo ficamos amigos.

Foi em um bingo que tudo aconteceu.

Ela e eu ficamos com a venda dos pastéis nas mesas, então uma hora mandaram a gente tirar um folga e resolvemos ir sentar em algum canto mais calmo para bater papo.

Ela estava um pouco diferente, mal olhava para mim enquanto conversávamos.

- Debora, ta tudo bem?

Ela ficou vermelha feito um pimentão.

- S-sim - respondeu ela.

Ela nunca ficava vermelha e olha que costumávamos conversar sobre coisas um tanto quanto constrangedoras, ela me fazia muitas perguntas por eu ser médico e ela confiar na minha palavra.

Então ela virou e perguntou.

- Já se apaixonou Gabriel? 

- Já. - respondi simplesmente.

- É, eu achava que o que eu sentia pelo Claudio era amor, mas descobri que não era.

- Como descobriu isso?

- Você me fez perceber.

Sorri.

- Fico feliz em ter sido útil.

- Gabi... Você ainda é apaixonado pela garota?

- Que garota?

- Você disse que já se apaixonou certo? Ainda é apaixonado por ela? Ou já passou?

Eu olhei para a lua antes de responder.

- Eu ainda sou apaixonado por ela.

Debora murchou ao meu lado, vi que ela estava se contendo para não demonstrar a decepção.

- Ela tem sorte. Não entendo por que não estão namorando ainda. - ela não conseguia conter  o tom amargo da voz.

- Ela não se tocou ainda. 

- Ela é trouxa isso sim.

- Não fala assim dela. Ela não tem o coração muito aberto para caras, passou por muita coisa, teve uma criação machista e um casamento desastroso com um mala aí...

Ela estava olhando para o chão distraída, mas do nada ficou rígida e virou para mim com uma expressão chocada.

- Ela teve o quê?

- Um casamento horrível.

- Mas... Gabriel... eu acho que não entendi... - parecia que estava tendo uma epifania, mas ainda processava a informação confusa.

Então eu toquei o queixo dela, que nem percebeu no meio de seus devaneios e calei ela com um beijo.

Levou uns 10 segundos até ela perceber que eu a estava beijando. Então ela arregalou os olhos estática e se entregou para os meus lábios. Quando terminou eu tinha um sorrido de orelha a orelha e ela tentava processar tudo.

- Sou eu? - Perguntou ela por fim.

- Sim, é você.

- Faz tempo?

- Eu só comecei a participar do grupo pra me aproximar de você.

- Sério? 

- Sério.

- Nossa...

- Então...?

Ela me olhou e sorriu.

- Acho que estou apaixonada por você.

- Então eu me vejo no direito de te pedir em namoro.

- Namoro?

- É, quer namorar comigo?

- Eu adoraria!

- Perfeito! - Então eu a beijei de novo e ficamos ali até dar a hora de voltar pro trabalho com os pastéis.

Pedi ao pai dela, começamos a namorar, ficamos noivos e nos casamos, eu sempre dei espaço a ela, sabia que ela teve muitos momentos traumáticos, então permiti que ela ditasse o ritmo da nossa relação física e ela deixou passar até nos casarmos.



Era nossa primeira noite como marido e mulher e eu via claramente que ela estava apavorada.

- Amor. Podemos pular esse momento constrangedor, posso esperar, sério. - disse a ela.

- Mas... não é o certo eu... - a interrompi.

- Juro que se disser "deveres de esposa" eu vou ficar puto!

- Mas... Eu quero, você merece sabe, eu só não sei se vai ser... Bom. Entende? - ela parecia triste.

- Você confia em mim?

- Claro que confio! Eu amo você.

- Então sabe que eu não vou machucar você.

- Sei.

- E se você quiser parar é só me falar.

- Ok.

- Eu amo você Debs, desde o primeiro momento que eu te vi. - Eu a abracei e beijei os seus cabelos. - Você é a mulher mais linda, doce e meiga que conheci.- Eu desci contornando o maxilar dela com o meu nariz e depositando beijos carinhosos pelo caminho, até chegar a sua boca. Então eu a beijei com todo amor e carinho e ela foi relaxando em meus braços.

Aos poucos eu fui intensificando o beijo e inserindo as carícias, incentivando ela a retribuir, ela com seu jeito curioso foi me tocando e perdendo o medo que eu a tocasse. Quando ela gemeu pela primeira vez eu sorri.

- Viu, consegue sentir prazer quando eu toco você bem aqui - repeti a caricia e ela gemeu de novo. 

Aos poucos fomos nos descobrindo, nos conhecendo e aprendendo o que era bom.

No ultimo instante eu perguntei se ela estava pronta e ela disse que sim de um jeito tão sexy que fez meu sangue ferver.

Então eu avancei e senti ela estremecer sob mim.

- Está tudo bem meu amor? - Perguntei totalmente imóvel, temendo machucá-la. Então, antes dela me responder eu senti ela relaxando. - Vou seguir em frente, por favor me fale se  tiver desconfortável.

Ela concordou com a cabeça e eu comecei a me mover delicadamente, então em um movimento ela gemeu, eu repeti e ela arfou.

- Amor? - chamei.

- Ah... isso é... - ela parou no meio da frase para gemer alto. - Ahhhh, amooooor. - então ela mordeu o lábio segurando mais um gemido.

- Pare de se controlar, aqui você é livre! Grite, fale, faça o que quiser!

E ela respirou fundo e se entregou, aos poucos ela foi gemendo mais alto até chegar ao orgasmo e eu chorei, feito um bobalhão, fiquei emocionado de ver a minha esposa tendo um orgasmo, depois de toda dor que passou com o primeiro marido, pela primeira vez ela estava se sentindo bem ao fazer amor. Não demorei muito até chegar ao orgasmo também.
Depois que terminou eu rolei para o lado e puxei ela para os meus braços.

- Você geme tão gostosinho. - disse dando um peteleco gentil no nariz dela.

- Isso foi... incrível! Eu nunca me senti assim.

- Estou feliz em te proporcionar isso.

- Eu amo taaaaanto você!

- Também amo você. E quer saber? Se essa é a mulher com quem eu vou transar para resto da minha vida... Eu jamais vou devolver você pro seu pai! - Abracei ela protetoramente e disse com a voz do Smeagol - My precious.

Ela deu uma gargalhada.

- Você é maluco Gabriel!

Eu ri.

Ela se esticou e me beijou.

- Obrigada por me amar.

- Obrigada por me amar também.

Estamos juntos há 37 anos, temos um casal de filhos e 3 netos. Eu sempre a amei e nós somos muito felizes. Sempre eu que eu fico irritado com ela por alguma coisa eu pego, dentro de uma caixa de recordações que guardo no meu armário, o papel onde escrevi os nossos votos onde tem uma frase de Shakespeare, e lembro porque eu a amo.



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